Crise de energia e de medidas enérgicas
por Anselmo Heidrich
Para atingir os intentos revolucionários, os terroristas das Farc atacam a infra-estrutura dos países da região.
A América Latina está sendo acometida por uma crise anunciada. Enquanto o mundo vive às voltas com terrorismos, separatismos, nosso principal problema não muda desde os tempos coloniais. A saber, o excesso de centralismo governamental que leva a efeitos perversos, como a falta de investimento em itens que realmente importam. Como se isto não bastasse, ongs de fachada e outras nem tanto mantêm ações contra o empreendedorismo na região. A bola da vez é a crise energética...
O setor elétrico no Brasil está na dependência de que o regime de chuvas permaneça estável, pois a oferta de gás natural da Argentina (que já negou a mesma para o Chile) e da Bolívia, simplesmente, não é confiável. Reduções de armazenamento nos reservatórias de nossas hidroelétricas (10% no Sudeste e 17% no Nordeste) ocorreram na esteira das dificuldades de importação do recurso alternativo.
Mas, outro elemento se soma à isto, a pressão de ongs ambientalistas e indigenistas contrárias à instalação de novas usinas na Amazônia, cuja bacia hidrográfica apresenta o maior potencial para expansão. O que antigamente era inviável, a "estocagem de energia" através da construção de reservatórias e novas linhas de transmissão que permitem a interligação no território nacional. A falta de investimento no setor já reduziu a capacidade de armazenamento de água em mais de três vezes, se considerarmos o período que vai de 1970 a 2003.
Parece que as lideranças latino-americanas sofrem de um mal comum na perda do senso de responsabilidade na viabilização da infra-estrutura. Restrições de consumo de energia têm limitado horas de trabalho nos portos argentinos. O Porto de Rosário, por exemplo, não funciona à noite para economizar energia (Newsletter diária n.º 1141 - 29/02/2008 - http://www.amanha.com.br/).
A crise não é exclusividade das maiores economias regionais. Pequenos estados também não têm sido "perdoados" pelo excesso de burocratismo estatal que não acompanha as demandas por energia... Desde meados do ano passado, os nicaragüenses já têm utilizado a palavra "alumbrones" por oposição a seus "apagones". O país vive com racionamento de 12 horas ou mais ao dia. A rotina diária vai de danos a medicamentos que precisam de refrigeração aos bairros pobres que organizam milícias para se defender de delinqüentes.
Segundo Álvaro Ríos Roca, ex-secretário executivo da Organização Latino-americana de Energia (Olade) e ex-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, nos últimos 12 meses, pelo menos 14 países na América Latina têm passado por alguma crise energética. Não dá para culpar os climas distintos que vigoram em um território tão extenso. Trata-se de uma obsolescência geral e crescente na região ao que, não por acaso, tem em seus modelos de estados, um centralismo exacerbado.
A quem interessa isto?
Não se trata de uma situação destituída de sentido e ação perpetrada por ideólogos. Além do obstáculo produzido via meandros burocráticos que a própria democracia consolidou ao viabilizar "interesses sociais", muitas vezes quem fala em nome da "sociedade" são setores que lucram politicamente com o caos. De forma mais direta e ostensiva, esta tem sido a atuação de grupos terroristas. Após nove ataques das Farc ao seu oleoduto transandino, a companhia colombiana de petróleo Ecopetrol paralisou suas atividades. Ataques estes feitos com tiros de fuzil e outros com dinamite.
Uma paralisação no fornecimento de petróleo na Colômbia não conviria ao Senhor Hugo Chávez?
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